O município é conhecido como a “Terra do Ouro” por ter se emancipado em 1882, de Caçapava do Sul, pelo seu crescimento econômico no final do Século XIX, devido às descobertas de veeiros de ouro. Segundo o livro “Olhares da Minha Terra” (2013), de Gujo Teixeira, o nome oficial Lavras do Sul foi definido em 29 de dezembro de 1944. O curioso é que o nome da cidade quase se tornou Araíuba (“lugar do ouro”), por conta de um decreto do Governo na época, que disciplinava os nomes das cidades de acordo com suas origens e descendências, ideia que acabou sendo engavetada.
Mas antes disso, o território lavrense fazia parte da Grande Estância de São Miguel, conduzida pelos padres jesuítas e os povos originários catequizados, sob a alcunha de Povoado de Santo Antônio. Antiga aldeia dos índios Guenoas, o território lavrense fez parte das missões jesuíticas, começando a ser colonizado a partir do final do Século XVIII. Segundo o livro “Município, teu nome é sucesso”, de Giovani Cherini, publicado pela Assembleia Legislativa em 2001, as terras de Lavras do Sul são originadas de Bagé e Caçapava do Sul, que, por sua vez, pertenciam a Rio Grande e Rio Pardo em outrora.
Com a intenção de criar gado e produzir alimento para a população abrigada nas Missões, os territórios do Pampa foram sendo recortados com construções que conhecemos como “mangueiras de pedra”, e casas para 200 famílias indígenas, além dos fornos de cal que serviam para beneficiar o minério encontrado nesta região para a construção dos fortes, uma hipótese é que o Povoado de Santo Antônio, próximo à ERS-630, divisa Lavras do Sul e Dom Pedrito, seria o lugar onde Guaranis e Jesuítas produziram o material para a construção do Forte Santa Tecla, Bagé.
Portanto, a história de Lavras do Sul começa a ser registrada em torno de 300 anos atrás. Com a expulsão dos Jesuítas, dá-se início ao sistema das Sesmarias, entre 1780 e 1801, e Lavras do Sul passa a ser um espaço interessante para os postos de observação do gado. A pecuária extensiva era o que mantinha a economia do Rio Grande do Sul, pois a Província de São Pedro abastecia com charque os trabalhadores escravizados e soldados do Império.
É neste contexto que a pecuária e a mineração vão constituindo a identidade deste município e dos seus vizinhos, pois os jesuítas buscavam não só remansos férteis para o gado, como também fontes de minérios para produzir ferramentas, sinos, cruzes e armas, sendo assim, o cobre era um dos alvos dessa busca, muito embora o cobre encontrado na nossa região não fosse possível beneficiar com as tecnologias da época, foram os religiosos que deram o alerta em seus diários e relatórios de viagem que aqui era um lugar rico em minerais e minérios.
Algumas fazendas ainda preservam essas estruturas da época dos jesuítas, comprovando a importância histórica de Lavras do Sul na construção das Missões, como é o caso da Estância da Floresta e da Estância Curral de Pedras, nesta última existiam as estradas que ligavam São Miguel das Missões ao Rio da Prata. Quando o ouro foi identificado, em 1796, vários pesquisadores e cientistas começaram a visitar o povoado, e em 1849 são construídas as primeiras casas de alvenaria, por construtores portugueses e espanhóis que chegam para ocupar o território. Também vieram bandeirantes do Sudeste com a notícia do precioso metal nas águas do Rio Camaquã, dando origem à figura do garimpeiro que estampa o brasão do município junto ao boi e ao arado.
Ao mesmo tempo, nomes importantes da ciência buscavam afirmativas sobre a descoberta do ouro na pequena vila, como Claude-Henri Gorceix, um mineralogista francês, fundador da Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, e também, o botânico Ladislau Netto esteve aqui, que em uma de suas expedições pelo Brasil antes de se tornar o Diretor do Museu Nacional em 1876, provavelmente quando era o diretor da Seção de Botânica do Museu Nacional em 1866, aos 28 anos de idade. Faziam parte também desta expedição, integrantes da Comissão Geológica do Império. Foi com Ladislau Netto que Licínio Cardoso, então com 21 anos, foi para o Rio de Janeiro estudar na Escola Militar do Rio de Janeiro, tornando-se Matemático em 1874, anos depois torna-se uma figura importante no cenário político do Rio de Janeiro, com a corrente positivista de August Comte. Foi Licínio Cardoso, quando se tornou médico, que interessado pelo estudo da homeopatia, trouxe a ciência para o Brasil, fundando a Faculdade Hahnemanniana, em 10 de abril de 1912, e em 1916, o Hospital Hahnemanniano com instalações à Rua Frei Caneca, nº 94, em terreno e edificações obtidas do Governo da República.
Licínio Athanásio Cardoso é uma das pessoas mais importantes da história de Lavras do Sul, um exemplo de superação, disciplina e foco nos objetivos. Em 1915, o Bispo de Pelotas, Dom Francisco de Campos Barreto, com a ajuda do vigário local, Pe. Antônio Martins D’Oliveira, foi retomada a obra da construção da Igreja Matriz Santo Antônio, que havia iniciado em 1862, mas em razão da Guerra do Paraguai, a empreitada foi cancelada. E em 1919 foi inaugurada a igreja que hoje é considerado o ponto turístico mais apreciado pelos lavrenses e visitantes, é um ícone do município. Uma boa quantia para que a igreja fosse erguida foi deixada em banco pelo Visconde do Serro Formoso, que ainda em vida, na primeira fase da construção do templo, doou além de recursos financeiros, materiais da sua estância, como madeira e pedras. Nascido em 1806, era descendente de colonos açorianos do Rio Grande do Sul. Em 1865, hospedou Dom Pedro II e sua comitiva, em Lavras do Sul, a caminho de Uruguaiana, no início da Guerra do Paraguai. Na ocasião o imperador foi recebido por uma banda composta por 60 escravos, tocando o Hino Nacional, além disso Francisco Pereira Macedo alforriou 50 escravos para que fizessem parte do exército, além de quatro de seus filhos terem se engajado às tropas, tendo também fornecido grande quantidade de cavalos. Amante da música, contratou Tomás do Patrocínio, irmão de José do Patrocínio, para instruir seus músicos escravos. Em 1884 alforriou todos seus escravos, se antecipando à Lei Áurea o que influenciou os fazendeiros da região a fazerem o mesmo. Foi agraciado Barão, em 6 de novembro de 1872 por sua contribuição a Guerra do Paraguai, e Visconde em 19 de dezembro de 1885 por ter alforriado seus escravos. Essas ações do Barão mostram o pioneirismo da gente de Lavras, que anos depois, já em 1932, com a visão empreendedora de Serapião de Freitas Souza, que trouxe uma equipe de geofísicos, entre norte-americanos e cariocas, para dar início aos estudos de Geofísica no Brasil, experimentos que possibilitaram a descoberta do petróleo na Bahia. Serapião era um entusiasta da busca pelo minério de ouro, proprietário do Engenho do Paredão, que produziu entre os anos de 1935 a 1947, cerca de 200kg de ouro ou 7.054,79 onças.
Pelas ruas da cidade, principalmente no Centro Histórico, as casas são compostas por elementos da arquitetura que guardam memórias de outros tempos, como as escaiolas, as faianças, os gradilhos de ferro da cultura Adinkra, os ladrilhos que estão nas calçadas e no interior das residências, posicionando a cidade como uma joia do Pampa, que ainda consegue preservar, mesmo com algumas perdas, a sua identidade cosmopolita, por onde circulavam inúmeras pessoas de vários cantos do mundo, como os imigrantes do Oriente Médio, daqueles que receberam a missão de guardar a fronteira, vindos de Portugal, e toda gente de toda cor que veio desfrutar da Terra do Ouro, resultando em uma comunidade diversificada e cheia de arte. Além das economias da pecuária, mineração e agricultura, principalmente soja, Lavras do Sul é uma cidade encantadora, com um cenário urbano repleto de casarões históricos, eventos comunitários, é rica em produção cultural, poetas como Gujo Teixeira e Mauro Ferreira colocam o Município no contexto nativista com grande destaque, sendo suas canções interpretadas por grandes nomes da música gaúcha. A cultura do campo está presente no cotidiano do lavrense, é comum ver pessoas a cavalo andando pela cidade, fazendo suas compras, assim como nas estradas em épocas de invernada, as tropas de gado, que são manejadas de um campo a outro para oferecer diversidade alimentar para os animais que estão em período de engorda. Com um dos melhores parques de exposições e, sem dúvidas, o melhor recinto de leilões do interior gaúcho, o Parque de Exposições Olavo de Almeida Macedo é um atrativo turístico e de negócios para Lavras do Sul, que através da busca pela pecuária sustentável, o Sindicato Rural colocou o município em destaque na produção em campo nativo, atraindo organizações como Alianza del Pastizal e SAVE Brasil, o que também abre oportunidades de negócios para o Turismo de Avistamento, que vem se mostrando como uma grande potencialidade, atraindo biólogos, avistadores e outros profissionais da área que movimentam o segmento.
Os três escritórios de remate movimentam o parque com dois remates por semana, nas quartas e aos sábados, além da compra e venda de animais, é possível desfrutar do espaço acolhedor e inclusivo, com pracinha para as crianças, restaurante e feira de artesanato. O próprio Sindicato Rural organiza diversos eventos que promovem a pecuária de corte no Estado, com destaque para o Universo Pecuária, que acontece sempre em novembro. Criado para discutir soluções para a produção sustentável do Rio Grande do Sul e do Brasil, o UP fomenta práticas de manejo responsáveis e inovadoras que diminuam os impactos ambientais, promovam o bem-estar animal, preservem a biodiversidade e os ecossistemas.
Dentro da programação anual do Sindicato Rural também tem destaque para o Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos (NCCCLS), que tem importantes eventos no calendário do sindicato, como Crioulaço, Doma de Ouro, Credenciadora do Freio de Ouro da ABCCC e provas de paleteadas, competições que atraem um público específico de criadores e cavalos crioulos, um ícone da cultura gaúcha pampeana, dando espaço para o crescimento de cabanhas, cursos para cavaleiros e ginetes, aulas de montaria para crianças, lojas agropecuárias e demais empreendimentos que fomentam a econômica que gira em torno do cavalo crioulo, além das próprias composições que denotam a vocação natural do município com a cultura do cavalo, como podemos observar no trecho dA música de Luiz Carlos Borges e Mauro Ferreira, morador de Lavras do Sul e um dos membros do NCCCLS:
“Cavalo é crioulo porque é o padrão
Del gaúcho e dos gaúchos mais atuais
Um sonho que se cria cada vez mais
No fundo da invernada do coração
No lombo de um gateado me sinto um rei
E o mundo todo gira na minha lei
Pois com o pé no estribo, a rédea na mão
A alma sai do chão”
Dentro do eixo Pecuária ainda temos a cadeia produtiva da ovinocultura, que pelas mãos talentosas das tecelãs e tecelões, transformam a lã em peças coloridas naturalmente com ervas e raízes das matas ciliares dos nossos rios. A atividade laneira é agregadora de valor ao trabalho rural das mulheres, que têm na sua ancestralidade o domínio das técnicas de transformação da lã bruta em diferentes produtos, fazendo o trabalho da criação da ovelha ao fio. Já a produção de embutidos ganha cada vez mais destaques no mercado gastronômico, com combinações que despertam o paladar dos degustadores. O Carnaval é outro evento que movimenta a cidade, tradicional evento que começou em 1930, com a fundação do Bloco dos Relaxados, um grupo de acadêmicos e intelectuais da época, está em atividade até hoje, sendo considerado o bloco carnavalesco mais antigo do país sem interrupção de carnavais. Contemporâneo era o grupo carnavalesco Zigue-Zague, formado pelos militares do 13o Regimento de Cavalaria, que nesta época movimentavam a cidade, o Regimento era composto por aproximadamente dois mil militares. No Carnaval de 1938, surgiu outro grande expoente do Carnaval Lavrense, o Bloco Vae de Qualquer Geito (VG).
FONTE: Secretaria de Turismo, Cultura e Desenvolvimento Econômico – Paulo Sérgio Marques Côrrea – Revista Destino Pampa. Adaptações de Murilo de Carvalho Góes – Panorama Lavrense.